A única constante é a mudança... e esta pode ser assustadora quando não fazemos parte dela.
O desenvolvimento pessoal todos os dias nos deveria empurrar para a frente, mas a nossa zona de conforto todos os dias nos puxa para trás. Simultaneamente, todos queremos mudanças mas, quem está disposto, em primeiro lugar, a mudar-se a si mesmo?
Todos pertencemos a grupos, queremos reconhecimento, queremos ser os melhores, os vencedores. Todos os dias, estes grupos e organizações a que pertencemos revelam as suas características, positivas e negativas, e despertam também em nós o melhor e o pior que temos, o melhor e o pior do que somos.
Diariamente, damos por nós a constatar a diferença entre o que somos no presente e o que gostávamos de ser no futuro. Vamos andando, continuando, até sermos obrigados a mudar... e ficamos assustados.
Mas então, o que fazer para que seja possível um futuro diferente para melhor, através de um processo de mudança positiva? Provavelmente, a resposta será diferente consoante a realidade de cada um, mas é possível encontrar pontos em comum que não podem, nem devem, ser esquecidos.
A pergunta crucial é esta: o que é que nos separa daquilo que REALMENTE queremos ser?
Mais dinheiro, mais saúde, mais apoios, melhor alimentação, mais atividade física, outro emprego...? Certamente tudo isto poderia fazer parte da mudança, mas faltaria o mais importante de tudo: uma nova atitude. Sem ela não é possível mudar, muito menos mudar para melhor. Sem ela, poderia mudar tudo à nossa volta e a tendência seria cairmos novamente numa zona de conforto que nos levaria ao ponto de insatisfação inicial.
Para que a mudança aconteça, para mudarmos os resultados, precisamos de começar por mudar a atitude. Só assim seremos construtores de nós mesmos, agentes de mudança, melhores pessoas, em melhores equipas.
No entanto, para que a viagem dessa mudança aconteça é preciso ter atenção aos bloqueadores que podem aparecer pelo caminho:
1º Bloqueador da mudança: “A culpa não é minha!”
Este é um processo cultural que temos enraizado à nossa volta e que nos educa a desresponsabilizar-mo-nos constantemente, a ter uma desculpa pronta mesmo que não cheguemos sequer a precisar dela. A viver na ilusão de que o mundo está em dívida connosco e, a qualquer momento, tem de nos pagar. Pensando assim, nunca iremos refletir profundamente sobre o que podemos fazer para mudar e para fazer melhor. A mudança começa em nós, mesmo que além de nós sejam necessárias outras mudanças.
2º Bloqueador da mudança: “Errar é um problema”
Importa assumir que o caminho até ser excelente, em qualquer área, além de longo, é sinuoso e exigente. Mudar implica fazer algo novo e quando fazemos algo de novo é natural que aconteçam erros! É óbvio que haverá algo a melhorar. Sempre. Daqui, exige-se que criemos oportunidades de aprendizagem, momentos de treino, de renovação, para que este processo decorra num contexto de exigência e superação, sempre aproximado à realidade. Ora, se o processo segue esta linha e no início somos maus, certamente que vamos cometer erros e não há problema nenhum nisso. O problema existe apenas se persistirmos em cometer os mesmos erros ou, por outro lado, se os ignorarmos ou não aprendermos nada com eles.
3º Bloqueador da mudança: “O meu talento basta para ter sucesso!”
Raramente se vê o êxito e a consagração como resultado do esforço, do treino e do trabalho como um investimento que vem lá de longe, muito a montante, pensado a longo prazo. Vemos os "heróis" de hoje sem saber o que foram ontem, sem imaginar pelo que passaram. E amanhã… já nos esquecemos.
Há alturas em que parece que acreditamos num sucesso tipo fast-food ou desenrascado no micro-ondas. Outras vezes atribuímos os insucessos a forças invisíveis que parecem comandar os resultados, como a sorte ou o destino. É comum, por exemplo, em reportagens sobre grandes desportistas, ouvir relatos de profissionais que com 10 anos já marcavam muitos golos, ficando na ideia que o talento já nasceu com ele. Porém, esquecemos de todos os anos de sacrifício que mediaram a infância dos resultados de hoje. Depois vemos como são atualmente. Fácil, simples… como se nesse espaço de tempo não estivesse tudo aquilo que os levou a atingir o sucesso!
O treino, o método, a repetição, os erros, o feedback, a melhoria contínua conduziu ao sucesso. Somos socialmente conduzidos a valorizar muito mais o sucesso imediato, os novos ídolos que surgem quase por geração espontânea sem compreender que, aquilo que conhecemos, é apenas a ponta do icebergue: o que sustenta esse brilho é uma base muito maior do que aquilo que imaginamos. Muitas horas de treino e de dedicação, de pequenos avanços e recuos. Os desportistas são um bom exemplo, pois no auge do seu rendimento, investem anos e anos de treino para poderem melhorar 1 milésimo de segundo ou 1 centímetro na sua performance.
4º Bloqueador da mudança: “Quem me critica meu inimigo é!”
Temos, regra geral, pouca tolerância com quem nos corrige e nos critica, mesmo quando o faz num sentido positivo e construtivo. Somos pouco tolerantes ao chamado feedback negativo, mesmo quando ele é dado ao comportamento observado e não ao carácter da pessoa. Estas críticas são vistas como ataques pessoais e não como oportunidades de melhoria… e a diversidade de opiniões e de visões, entre quem fez e quem observou, é vista como algo negativo, em vez de algo rico e estimulante.
Se é difícil elogiarmos sinceramente alguém que faz bem o que é pago para fazer (como se isso fosse tudo!), temos ainda mais dificuldade em dar um feedback assertivo. Temos dificuldade em dizer "não", em dizer "basta" e em dizer "o que tem de ser dito". Se não for dito a alguém o que essa pessoa tem de melhorar, como é que ela pode melhorar? Será que essa pessoa sabe sequer o que precisa de melhorar?
5º Bloqueador da mudança: “Mudam-se as palavras muda-se a realidade!”
Nenhuma mudança significativa se opera simplesmente pelo conhecimento ou pelas intenções, por melhores que sejam. Dizer: "Vou fazer!" não chega. Não muda nada.
Só mudamos aquilo que somos capazes de fazer, fazendo-o de facto, ou fazendo-o de forma diferente. Por isto, não basta saber e dizer, é preciso realmente fazer! É preciso transformar ideias em iniciativas, intenções em comportamentos, desempenhos em resultados. Perante qualquer desafio, por mais exigente que seja, todos sabem o que há a fazer. Mas será que fazem tudo o que sabem? Será que fazem tudo o que dizem? Será que fazem tudo o que podem? Não interessa se sabemos o que tem de ser feito. Interessa se o fazemos ou não. Mudar o discurso não chega, é preciso mudar as atitudes e colocar isso em prática.
Estes cinco bloqueadores da mudança fazem parte do nosso dia-a-dia, muitos deles constituídos como hábitos instalados ou como “raízes culturais”. Importa reforçar a responsabilidade que cada um de nós deve assumir: é a responsabilidade de fazer diferente, para melhor. É assumir a responsabilidade de se preocupar genuinamente com as outras pessoas e de valorizar os seus contributos; assumir os erros e entendê-los como oportunidades de aprendizagem; aceitar as opiniões e feedbacks para melhorar a cada dia; treinar, trabalhar e persistir continuadamente para potenciar as nossas competências.
O processo de mudança não passa pelo que se diz… passa pelo que se faz! Porque quando se trata de mudar para melhor, ontem já era tarde.
Inspirado em "Sete Sapatos Sujos" de Mia Couto
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